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NÃO SEJA UM IDIOTA!

Quando ser ou não ser idiota é uma questão de ponto de vista

Sua idiota!” Ouvi uma distinta senhora disparando esse xingamento contra a funcionária de uma loja. A mulher, provavelmente uma cliente que não teve sua vontade atendida, sentiu-se no direito de ofender a atendente que continuou impassível em sua função. Talvez, acostumada àquele tipo de tratamento ou, quem sabe, consciente de sua dignidade. Independentemente dos detalhes que levaram a esse fato, quando uma pessoa diz isso a alguém, sua intenção não é outra senão ofender. Mas o que significa ser um “idiota”?

Em consenso, significa ser uma pessoa de pouca inteligência, ignorante, um “imbecil”. Entretanto, esse termo nem sempre teve esse significado. Seu caminho até se transformar em ofensa, passou por diversas mudanças, algumas que até podem fazer-nos entender, e refletir, se sua origem não seria mais adequada para o tipo de “idiota” que temos hoje.

A origem do termo é grega e significava uma “pessoa privada”, ou seja, que não se interessava por assuntos da “polis”, (vida pública, assuntos da cidade-estado). Era, então, uma pessoa reservada, que não costumava conversar sobre política, não ficava falando bem ou mal deste ou daquele político: era um verdadeiro “idiota”. Hoje, é praticamente o contrário.

No Período Clássico da Grécia Antiga, por volta do século V a.C., participar da “Ekklesia” (a assembleia do povo) não era visto apenas como obrigação, mas sim um privilégio. As pessoas reuniam-se nas praças para debater, discutir e, de uma forma direta, participar das decisões de sua comunidade. Como você pode perceber, poucas pessoas não se interessavam por fazer parte desse tipo de movimento. Aquelas que não o faziam eram “idiōtēs” (ἰδιώτης), ou seja, “idiotas”. Isso não significava que fossem pessoas sem formação ou conhecimento; eram apenas pessoas que deixavam as decisões para os outros e queriam seguir a sua vida sem se envolverem, queriam ficar na delas. O que muitos deveriam fazer hoje em dia.

Já na Idade Média, em uma sociedade cujo conhecimento teológico e cultura letrada eram para pessoas com mais condições, ou ligadas à igreja, o termo passou a representar não só aqueles que não se envolviam com política, mas também pessoas sem instrução. Esse termo ainda não havia adquirido as conotações pejorativas que conhecemos hoje, mas estava bem perto.

No século XIX, “idiota” tornou-se um termo médico para a designar pessoas com um estado grave de “retardo mental”. A partir daí, começou a ser usado como ofensa comum na boca de irmãos mais velhos e de todo tipo de gente sem respeito pelo próximo. Na semântica, chamamos esse processo de “pejorização”, em que um termo geralmente neutro ou descritivo adquire uma carga negativa ao longo do tempo por questões sociais ou culturais.

Hoje, vivemos um paradoxo do termo, uma vez que existem pessoas que se envolvem com política e vida pública e não poderiam ser chamadas de “idiotas”, mas não têm o menor conhecimento de conceitos básicos como democracia ou liberdade de expressão, para falar dos mais simples, o que nos levaria a chamá-los de “perfeitos idiotas”, mas também há os que preferem não se envolver, o que é mais sensato em um período de “linchamento ideológico”, mas seriam os “idiotas” de outra época.

Isso coloca-nos em um impasse: que tipo de “idiota” você é?

Carlos Ramos

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